- Joana, Joana! Anda, filha, temos de ir buscar o pinheiro para o Natal. A tia viu, na mata das Moitas, uns muitos jeitosos de onde podemos cortar uma rama para fazer uma bela árvore de Natal.
Joana ficou empolgada, ela adorava o Natal, era a altura do ano em que a fantasia se misturava com os sons, cheiros e cores da Terra.
- Olha Joana, o que achas deste aqui?
- A mim parece-me bem, tia, não é muito grande nem muito pequeno e tem uma rama muito vistosa; vamos levá-lo!
- Também acho! – concordou a tia.
- Será que a Margarida já fez o presépio dela? Ela faz sempre um presépio tão bonito tia.
- Não sei, querida, mas logo saberás, podes pedir à Margarida para te ajudar a decorar o teu pinheiro de Natal!
Joana estava feliz e ansiosa, ela adorava o presépio da sua amiga, tinha animais, pastores, lavadeiras, reis Magos, padeiros, crianças a brincar, um sapateiro e até tinha um lago, fazia-lhe lembrar uma aldeia em miniatura. Mas o que Joana mais gostava era da figura do menino Jesus, se calhar por ser um menino com quem Joana sonhava brincar.
- Margarida olha! Já tenho o meu pinheiro de Natal, já só falta decorá-lo. E tu, já fizeste o teu presépio?
- Ainda não acabei, queres vir ajudar-me?
- Claro que sim! Vamos já para não perdermos tempo! O teu presépio é mesmo giro, com tantas luzes e todas estas figurinhas.
- Sabes, trouxe tudo de Angola quando eu e os meus pais viemos embora.
- De Angola? Onde é que fica Angola?
- Oh, muito longe, é um país muito quente com grandes florestas e muitos animais.
- Então Angola deve ser um país muito bonito, porque vieste embora?
- Por causa da guerra.
- Da guerra? E o que é a guerra?
- A guerra é uma coisa muito má, destrói as pessoas e leva-as a fazer coisas muito feias umas às outras, por isso eu e os meus pais viemos embora.
Joana ficou assustada, Margarida era apenas uma criança como ela, já tinha visto o lado mais triste da vida, as crianças não deviam sofrer nem chorar. Joana era uma menina muito feliz, apesar de não ter um presépio como o da sua amiga e a sua árvore de Natal ser coberta apenas de algodão, o que lhe fazia lembrar a neve que todos os Invernos caía, branca e fofa e cobria a sua aldeia. Margarida sabia que Joana não tinha um presépio, por isso, decidiu oferecer-lhe uma das suas estrelas preferidas, para que Joana a colocasse no cimo do seu pinheiro de Natal.
- Fico muito contente - disse Joana - É a minha prenda de Natal, uma estrela para o meu pinheiro, vai ficar lindo, com muita neve e lá no cimo, bem alto, fica esta estrela a brilhar, vai ser o pinheiro de Natal mais fantástico que alguma vez tive.
- O teu presépio tem neve? E o que é a neve?
- Tu não sabes o que é a neve Margarida? Nunca viste nevar?
Joana estava impressionada com o facto da amiga não saber o que era a neve, mas em Angola não nevava, era um país com muito sol. Margarida estava surpresa com a admiração da amiga, será que era assim tão estranho não saber o que era a neve?
- A neve - disse-lhe Joana - é simplesmente bela, cai silenciosa na nossa mão, no jardim da escola e, por vezes, cai durante tanto tempo que parece que cresce da terra, é quando mais gosto de ir à escola, de fazer grandes bolas com os meus amigos e depois, atiramo-las uns aos outros.
- Será que vai nevar este inverno? – perguntou Margarida. – Eu gostava tanto que nevasse para fazermos bolas juntas e bonecos de neve.
- E vai nevar, neva sempre no inverno – disse Joana – mas agora gostava muito de te ajudar a terminar o teu presépio.
- Claro que sim e depois vamos fazer o teu pinheiro de Natal - acrescentou Margarida.
E assim, saboreando o prazer de estarem juntas, as duas amigas concluíram as suas obras natalícias, na esperança de que os flocos de neve as viessem visitar e que, em Angola, apesar de não nevar, as crianças também pudessem estar juntas.
Inesita